2016-01-07
DIÁRIO DE NOTÍCIAS
Haverá Museu Judaico em 2017: “Vacina contra o fanatismo”
Já não há como voltar atrás sem embaraço. Há um telão enorme no Largo de São Miguel, em Alfama, a anunciar o local do futuro Museu Judaico de Lisboa, que deverá abrir portas no primeiro semestre de 2017. ” É um projeto que propusemos ao Doutor João Soares [enquanto autarca] em 1996 e que depois foi retomado na gestão de António Costa”, recorda Esther Mucznik, vice-presidente da Comunidade Israelita de Lisboa (CIL).
Vinte anos depois, é pelas mãos de Fernando Medina, atual presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML), e da vereadora da Cultura, Catarina Vaz Pinto, que o projeto do museu avança. Até aqui, recorda Mucznik, a CML “não dispunha de possibilidades financeiras”. Recentemente, “a situação foi desbloqueada” e a financiar o futuro museu Camarário estarão ainda “parceiros a nível internacional”.
“Não queremos um olhar de vitimização” lança Esther Mucznika cerca do museu. Explica que este irá pôr “a tónica sobretudo nos contributos das diferentes comunidades judaicas ao longo os séculos, em Portugal e na diáspora, depois da expulsão. Vamos dar mais ênfase aos contributos do que propriamente à parte da expulsão, inquisição, que estará presente”.
Ainda sem adiantar obras e nomes que no próximo ano deverão habitar as paredes do museu, a vice-presidente da CIL adianta que “grande parte do espólio será de depositantes que fazem parte da comunidade [israelita], outros não.” A este espólio acrescerá, para futuras exposições temporárias, “a possibilidade de ter apoios do Museu Judaico de Amesterdão, com quem já falámos várias vezes, de França e vários pontos da Europa.”
Sem custos e modelo de gestão
A escolha daquele lugar para o futuro museu – ao lado da igreja de São Miguel – não foi em vão. Alfama é “o bairro [que] albergou a mais importante comunidade de judeus da Lisboa medieval”, recorda Catarina Vaz Pinto, responsável pelo pelouro da Cultura da CML. Quanto ao projeto arquitetónico para o edifício a recuperar, a vereadora diz que este “ainda está a ser trabalhado pelo que é prematuro neste momento apontar dados financeiros concretos sobre custos de construção e modelo de gestão”. A arquitetura estará a cargo de Graça Bachmann. Autora da proposta para o Memorial às Vítimas da Intolerância Evocativo do Massacre Judaico de 1506, erigido em 2008 no Largo de S. Domingos.
“O objetivo do museu é garantir que a história dos judeus fica contada não só em livros, mas através de uma visão mais concreta. Através de peças, de filmes, de música, de ações concretas que pensamos desenvolver”, nota Esther.
A história, já se saberá, é “a dos judeus em Portugal como parte da identidade portuguesa. “Nós vamos para os diferentes sítios, colóquios, acontecimentos, comemora-se isto e aquilo, e fala-se dos judeus. Mas não existe uma história contada, acessível ao grande público.” Esther não tem conhecimento de outra entidade envolvida no projeto, além dos diversos órgãos camarários e da CIL. A vereadora, por sua vez, explica que “a CML está a trabalhar também com outras entidades públicas e privadas”, sem avançar quais.
Quando falamos do atentado ao museu Judaico de Bruxelas, em maio de 2014, ou dos vários ataques terroristas a França desse ano, Esther responde: “Muitas vezes as pessoas por desconhecimento, aderem a perspetivas que são visões erradas e fanatizadas e penso que o conhecimento é a grande vacina contra o fanatismo. Penso que o museu poderá ter um impacto nesse sentido: fazer compreender que a multiplicidade de culturas, não é um mal, mas um bem.”
mariana pereira