2021-03-31
DINHEIRO VIVO

Museu Judaico apresentado hoje com doação de 2 milhões de Berda

Em frente ao Tejo, na continuidade de uma das mais bonitas avenidas de Lisboa e com vista para a Torre de Belém e a Fundação Champalimaud. No número 5 da Rua das Hortas, onde a Avenida da Índia já se fez Belém, vai nascer o TIKVA Museu Judaico de Lisboa, para “contar a história da presença dos judeus no território a que hoje chamamos Portugal, nomeadamente Lisboa”.

O arquiteto mundialmente famoso Daniel Libeskind, apoiado em Portugal pelo atelier Miguel Saraiva+Associados, assina o projeto com grande impacto cultural na cidade de Lisboa, estando previsto que o arranque das obras aconteça já no primeiro semestre de 2022 e a abertura de portas se concretize em 2024. Depois de um processo atribulado que culminou com a implosão dos planos para que nascesse em Alfama – o projeto, lançado em 2016, foi contestado pelos moradores, e o Tribunal confirmou a proibição, em junho de 2019, de demolição dos edifícios que existiam no local -, o Museu Judaico tem finalmente perspetivas de ver a luz do dia.

O projeto conta com uma doação de 2 a 4 milhões de euros de Claude Berda, dono da Vanguard Properties, e é hoje apresentado pelo presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina.

Na assinatura do protocolo, marcada para as 12.00 na Câmara, estará presente a Associação Hagadá – associação privada sem fins lucrativos dirigida por Esther Mucznik, Jean-Jacques Salomon e Diana Ettner -, instituição responsável pela criação, instalação e gestão do Museu Judaico de Lisboa. Com Medina nos Paços do Concelho, numa cerimónia que terá de acontecer sem público, devido às restrições da pandemia, mas terá transmissão online, estará ainda o arquiteto Daniel Liberskind, autor do projeto, e Miguel Saraiva, fundador da Saraiva+Associados, que dará vida ao Museu naquela zona nobre da cidade.

“Não é um museu de judeus, mas sim um museu português que conta a uma história específica: a vida dos judeus em Portugal, uma história judaica e portuguesa”, explica a Associação Hagadá, nas suas páginas de redes sociais. “O que significa que não pode ser abordada de forma separada da História de Portugal.” Tratar-se-á de um local que se constrói dos momentos em que os judeus contribuíram para a nação portuguesa, mostrando como a história e a herança judias são parte integrante da História de Portugal.

O arquiteto que desenvolveu o One World Trade Center

A data escolhida para a assinatura do protocolo que marca o arranque do TIKVA – palavra hebraica que significa esperança e que está também associada à Sinagoga de Lisboa – não é casual. “É uma data simbólica que celebra os 200 anos da extinção do Tribunal do Santo Ofício (o instrumento da Inquisição foi estabelecido em 1536 e funcionou durante 285 anos, até 31 de março de 1821)”, concretiza a Associação Hagadá no comunicado partilhado no Facebook.

A construção do Museu Judaico em Belém parte de um acordo de direito de superfície entre a Associação Hagadá e a Câmara Municipal de Lisboa, por 75 anos e renovável. E para a sua edificação contará, sabe o DN/Dinheiro Vivo, a contribuição de Claude Berda e família. O milionário francês que é o rosto da Vanguard Properties – que tem investido com particular interesse na renovação imobiliária de Lisboa e que detém o projeto da Comporta com o grupo Amorim – vai apoiar a construção do TIKVA Museu Judaico de Lisboa com 2 milhões numa primeira fase do projeto, podendo a sua contribuição duplicar até ao fim do projeto.

Se o seu financiamento resultará em grande parte de contribuições da comunidade israelita, desconhece-se ainda detalhes sobre como será o Museu ou quanto custará a obra – mas aqui não se prevês que haja problemas de demolição, uma vez que o terreno já está livre de edifícios. Aquando dos projetos para Alfama, o investimento total apontado era de cinco milhões de euros e seria suportado por fundos da taxa turística e por uma doação da Fundação Lina e Patrick Drahi (fundador e presidente do grupo Altice) no valor de cerca de 1,2 milhões de euros.

Nascido na Polónia mas naturalizado americano antes dos 20 anos, Daniel Libeskind, vive em Berlim desde o ano em que caiu o Muro. Conhecido pelos edifícios angulosos em que dominam a geometria e as linhas vertiginosas, tem no currículo vários outros museus e galerias, incluindo o Museu Judaico de Berlim e o Imperial War Museum North, em Manchester. É ainda conhecido por ter desenvolvido o projeto One World Trade Center – antes chamado Freedom Tower -, a torre central do novo complexo World Trade Center, levantado em 2014, no Ground Zero, em homenagem às vítimas do 11 de Setembro no World Trade Center, em Nova Iorque.

joana petiz